segunda-feira, 26 de junho de 2023

O LIVRAMENTO DO CRENTE

 ESTUDO DA EPÍSTOLA AOS ROMANOS

REFERÊNCIA: Romanos 5


Capítulo 1


Da Morte Para a Vida - Romanos 5


A Epístola inteira de Paulo aos Romanos é anunciada resumidamente nas palavras: "O Evangelho de Deus” (1.1). 

Sua estrutura é bastante simples, pois existem apenas três divisões:

A primeira do capítulo 1 ao 8

A segunda do capítulo 9 ao 11

A terceira do capítulo 12 ao 16

Estritamente falando, o Evangelho de Deus como tema da

epístola é limitado à primeira divisão (1 a 8), isto é, ele é

limitado no que diz respeito à apresentação sistemática do

Evangelho. Ela é dividida em duas partes de quatro capítulos cada. No final do capítulo 4 alcançamos um período e o capítulo 5 inicia uma superestrutura construída sobre os primeiros quatro capítulos. A distinção entre estas duas partes fica assim:

Capítulos 1 a 4: O Evangelho para o pecador

Capítulos 5 a 8: O Evangelho para o justificado

A primeira começa com a questão do pecado e termina com a justificação do pecador; a segunda começa onde a primeira termina, isto é, com a justificação do pecador e conclui com sua redenção plena. Romanos 1 a 4 nos mostra o criminoso sendo levado ao tribunal e sua absolvição plena é assegurada pela fé, com base no sangue expiador do Senhor Jesus. Romanos 5 a 8 nos mostra o

pecador justificado deixando o tribunal plenamente absolvido, e depois, tratando com ele. Finalmente ele é visto em plena conformidade com a imagem do Filho de Deus.

Na Segunda parte, Romanos 5 a 8, temos o Evangelho para os crentes, o Evangelho que é peculiar ao Novo Testamento. O que queremos dizer com isso? Nos capítulos 1 a 4 temos a justificação pela fé, mas não existe nada peculiar nisso para o Novo Testamento, porque ela é encontrada no Antigo Testamento. Os santos daqueles dias estavam familiarizados com grande parte do que Paulo ensina nestes capítulos. Mas nos capítulos 5 a 8 temos uma revelação da verdade que é totalmente nova,

principalmente na plenitude da sua aplicação.


Antes Inimigos - Agora Filhos


Um título adequado para Romanos 1 a 4 poderia ser:

Antes Inimigos - Agora Filhos. Não "filhinhos", mas filhos; não pecadores, mas inimigos transformados em filhos. O termo "pecadores" está aqui, mas não é ele que dá cor a esta divisão. A ênfase não está na nossa pecaminosidade e sim na nossa inimizade, nossa rebelião. Nos capítulos 1 a 4 a ênfase está na justificação, mas no capítulo 5 está na reconciliação. Os justificados eram pecadores, mas os que foram reconciliados e feitos filhos eram inimigos. Em cada um desses capítulos temos uma subdivisão da divisão principal que estamos considerando.

Capítulo 5: a palavra predominante é morte

Capítulo 6: a palavra predominante é pecado

Capítulo 7: a palavra predominante é lei

Capítulo 8: a palavra predominante é carne

Existem quatro monarcas: A morte, o pecado, a lei e a carne e todos eles são destronados. A morte submete o seu trono à vida; o pecado submete o seu trono à justiça; a lei submete o seu trono à graça; a carne submete o seu trono ao Espírito.

Comparando de outra forma esses capítulos, podemos dizer que o capítulo 5 é a libertação da penalidade do pecado; o capítulo 6 é a libertação do domínio do pecado: escravidão; o capítulo 7 é a libertação da força do pecado - a lei; o capítulo 8 é a libertação da presença do pecado - a redenção do corpo. No capítulo 5 os inimigos são reconciliados; no capítulo 6 os escravos são redimidos: no

capítulo 7 os prisioneiros da lei são libertados; no capítulo 8 os filhinhos de Deus são estabelecidos como filhos maduros. Não existe outra parte na Escritura de maior importância para o crente em Cristo do que esta. Ela é o Evangelho real e básico para o crente.


Salvos na Esperança e a Justificação


De modo geral o capítulo 5 de Romanos se divide em duas partes: versículos 1 a 10 e versículos 11 a 21. Na primeira parte o "nós" sobressai, mas a segunda parte é bastante impessoal. Ambas começam com "portanto", e iniciam do mesmo ponto, que é a justificação pela fé. Os dois "portanto" unem as duas divisões com o final do capítulo 4, onde a justificação é explicada. A primeira divisão começa com a justificação como experiência e a segunda com a justificação como verdade abstrata. É por isso que a última é impessoal e a primeira mostra o "nós" claramente por tratar com a experiência de todos os que estão em Cristo. Romanos 5.1-11 expõe como um coração renovado pela graça deduz intuitivamente o final daquela redenção cuja experiência inicial é a justificação pela fé.

Permanecendo na graça eles "regozijam na esperança da glória de Deus". Este é o raciocínio do coração, não da mente, desde o início até o final da experiência. Romanos 5.12-21 não expõe a lógica do coração e sim da mente. Ali temos a revelação da verdade dada no capítulo 4, por meio

da lógica, do raciocínio, a lei pela qual a justificação de muitos surge da obediência de Um, o Senhor Jesus.

Salvos na Esperança – Rm 8.24a

Observe particularmente os onze primeiros versículos de Romanos 5. O assunto neles é esperança. Existe uma semelhança entre o tema e o tratamento dessa divisão com a que está no fim do capítulo 8. Lá também é esperança, com base numa consciência do amor de Deus em Cristo. O fato do início e da conclusão dessa divisão ser semelhante prova que esta é uma parte completa da Epístola. A

esperança é, portanto, o tema dessa divisão.

(1) A Ocasião da Esperança. A ocasião é a justificação, já experimentada por meio da graça. Esta experiência é incompleta e preliminar, pois o escritor trata com uma esperança de algo ainda por vir. "Somos salvos em esperança". Deus cuida de nós visando nos dar não apenas a bênção inicial, mas todas as bênçãos que Sua redenção providencia. Por isso "somos salvos em esperança".

(2) 0 Sustento da Esperança. "A tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança". Começando com a esperança, você a leva através de toda tribulação, pois isso até mesmo a ajuda a crescer!

(3) A Base da Esperança. "Porque o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado".

(4) O Raciocínio da Esperança. Ele começa com a premissa de um argumento: "Cristo morreu", morreu "a Seu tempo", morreu "pelo ímpio". Tal amor nunca é encontrado no caso de um homem comum, porque aqui o amor é pelos pecadores, pelos impios, pelos inimigos.

(5) As Conclusões da Esperança. Se justificados enquanto eram pecadores, então seremos salvos da ira. A outra conclusão é esta: se fomos reconciliados, sendo inimigos, seremos completamente salvos agora que estamos reconciliados e não somos inimigos. Se já fomos justificados por Seu Sangue, se já fomos reconciliados por Sua morte, então a redenção plena está garantida; visto que Ele não apenas morreu para salvar, mas Ele vive para completá-la, pois seremos "salvos por Sua vida". Esta é a visão geral desta primeira divisão do capítulo 5.


Justificação


Consideremos agora a visão geral da segunda parte do capítulo 5, começando com o versículo 12. Sua construção é peculiar. Ela contém digressões, conforme o estilo que é comum a Paulo. Seu tratamento principal está nos versículos 12, 18 e 19. Parece que os versículos 18 e 19 deveriam ser ligados com o versículo 12. O que fica entre eles é uma digressão dupla. O que segue os versículos 19, 20 e 21 se relaciona com uma parte da digressão dos versículos 13 e 14, concernente à lei, de modo que podemos ler os versículos 13, 14, 20 e 21, um após o outro.

O tema é a justificação com duas coisas nela: (1) A lei da ampla aplicação da Justificação; e (2) o propósito final dela como vida. Justificação é algo feito por outro em nosso favor, como nos mostram os versiculos 1 a 4. Mas como pode a virtude de algo assim feito por outro ser transmitido a todos? A resposta é que a virtude do ato pode ser transmitida a todos da mesma forma que o pecado de

um se espalhou a todos. A explicação é encontrada na unidade orgânica da raça. Sem tal coisa como a solidariedade da raça, o ato substitutivo de um em favor de todos seria impossível; mas por causa dessa solidariedade, um ato de desobediência tornou pecadores a todos e trouxe condenação. Assim também, o ato de Outro traz justificação: vida ao invés de morte; justiça ao invés de pecadores - ela os constitui justos. Não apenas os justifica, mas os torna justos. Há a justiça imputada, e também a

justiça comunicada. Deus nunca imputa justiça a ninguém, sem comunicá-la também - nunca!


Gloriando na Esperança


Este é o esboço geral. Agora vamos salientar alguns dos ensinamentos mais detalhadamente. "Sendo justificados pela fé temos paz com Deus ... e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus" (Rm 5.1,2). Paz e esperança são os frutos imediatos; não apenas a justificação, mas reconciliação, paz com Deus, levados à Sua presença, considerados justos e retos, uma obra no interior. Não temos consciência de culpa, pois temos paz. Ao invés de ira é vida e "acesso a esta graça na qual permanecemos" (Rm 5.2). Existe uma nova posição, uma nova relação com Deus, uma nova posição diante Dele, um novo coração, um novo prospecto, uma nova esperança, um novo futuro. Três vezes encontramos a palavra gloriar: (1) Regozijamos na esperança da glória de Deus; (2) Regozijamos nas tribulações; (3) Regozijamos em Deus. Está escrito que todos pecaram e carecem da "glória de Deus" (Rm 3.23).

Qual é esta "glória de Deus?" Não pode ser outra coisa senão o ideal definitivo que Deus tinha para a vida e o caráter do ser humano. A glória de Deus representa tudo o que pertence ao homem segundo o propósito de Deus ao criá-lo. Ficamos aquém disso por causa do pecado; mas agora, permanecendo na graça, nos regozijamos na esperança dessa glória. Onde a criação fracassou, a redenção teve sucesso. O propósito criativo de Deus será realizado. Cristo fez uma aliança com Deus que ele será realizado. O homem nunca pode ser realmente homem, se não for um vaso para o Divino. Deus nunca pretendeu que ele vivesse sua vida à parte Dele mesmo. Deus deve ser a sua vida - Deus em Cristo. A glória do homem é realmente a glória de Deus, pois é a vida, a sabedoria, o poder de Deus deve ser sua vida, sua sabedoria e seu poder.


Graça + Glória


A justificação é apenas o início; o fim é a glória. O caminho é a graça, mas é graça + glória. Ele concede graça para poder conceder glória. Esta é a esperança; será realizável? Não tenha dúvidas quanto a isso. Existem dificuldades, tribulações, todavia nos regozijamos na esperança a despeito delas! Não! Não! Não a despeito delas, mas por causa delas. Elas alimentam nossa esperança;

Deus precisa permiti-las por causa da nossa necessidade de disciplina. O caráter não pode surgir sem disciplina e a glória nunca vem sem o caráter. Estes são os passos: tribulações, disciplina, caráter, glória; e a esperança se regozija no meio de todas elas.

E a justificação dessa esperança é certa. "A esperança não confunde" (Rm 5.5). Por quê? Porque o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo.

Deus nos ama e temos a experiência disso no coração; Ele banha nosso ser e somos convencidos de que nenhuma coisa criada pode nos separar desse amor de Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. Embora fôssemos inimigos, mesmo assim Deus nos amou. Quando era uma questão de pecadores, foi o Messias Quem morreu por eles, mas quando morreu por Seus inimigos, foi como Filho. Por que

o contraste? Para que pudéssemos sentir mais e mais o amor de Deus. Dessa forma somos levados

para dentro de Sua família, onde o Pai do nosso Senhor se torna o nosso Pai. Por meio da morte que Ele morreu Ele nos salva do mais remoto; por meio da vida que Ele agora vive Ele nos salva totalmente; e nós estamos tão certos da esperança, que nós regozijamos como se ela já tivesse sido realizada, porque o amor de Deus está derramado em nossos corações. Nosso presente é graça, paz e esperança; nosso futuro é glória! Regozijamo-nos "em Deus", por meio de Quem temos agora recebido a reconciliação.

(Rhys Bevan Jones)